sábado, 2 de outubro de 2021

Introdução para uma Historiografia da História das Ciências

 Como tenho lido muitas coisas sobre os chamados Estudos Sociais de Ciência, me ocorreu a ideia de organizar uma série de breves comentários, de um caráter mais introdutório, sobre a historiografia desse campo, ou, melhor dizendo, a própria historiografia da história das ciências, não apenas os ESC. As duas maneiras mais tradicionais de organizar esses tipos de introdução são por temas ou por ordem cronológica; eu prefiro a última, mas com uma pequena diferença: as divisões são centradas em autores, com uma ou outra exceção, que tiveram ou ainda têm influência e importância na história das ciências. A ordem é cronológica a partir da publicação da obra citada, ou no caso de autores com várias obras, da publicação de sua primeira obra que trata de história das ciências.

Inicialmente, a divisão ficaria mais ou menos assim:

1) A revalorização da ciência medieval (segunda metade do século XIX): Paul Tannery e Pierre Duhem

2) A historiografia positivista das ciências e a institucionalização da disciplina (início do século XX): George Sarton

3) A construção de um fato científico (1935): Ludwik Fleck 

4) Uma sociologia externalista das ciências (1938): Robert Merton

5) A história das ciências como história das ideias (1939): Alexandre Koyré

6) A historiografia marxista das ciências (1953): J. D. Bernal

7) As ciências em outras culturas (1953): Joseph Needham

8) A grande revolução (1957): Thomas Kuhn

9) O programa forte da sociologia das ciências (1976): Barry Barnes e David Bloor

10) O campo científico (1976): Pierre Bourdieu

11) A ciência nunca é pura (1978): Steven Shapin

12) A antropologia dos não-humanos (1979): Bruno Latour

13) A historiografia feminista das ciências (1981): Donna Haraway, Sandra Harding e Lorraine Daston

14) Automodelagem (1993): Mario Biagioli

15) Circulação, intermediários e traduções (2007): Kapil Raj 

Como toda organização do tipo, é uma seleção muito pessoal, que poderia citar vários outros nomes também. O que apresento como um diferencial é dar mais ênfase a tradições anteriores da historiografia das ciências, que já estão claramente superadas hoje em dia mas que foram importantes em sua época para o estabelecimento do campo, e procurar mostrar várias abordagens diferentes que ao longo do tempo foram participando das discussões da disciplina. Em cada um dos comentários, pretendo indicar outras leituras complementares, e, sempre que possível, relacionar a historiografia da história das ciências com a historiografia de outros campos da história, algo que eu vejo ser feito muito raramente.


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